02/03/2022

Profissional

 (poema feito em 2019)

Na arcada dentária 

Não tem dente de siso

Meu corpo sem juízo 

Não tem pé nem cabeça 


É vontade pura

É  nevoa ofegante 

É desejo guloso 

Amorfo 

Bom prestador de serviços 

adapta-se a clientela 


Meu sexo é vinho 

que escorre pelo canto dos lábios

 ao fartar a sede

Nele cabem todos os tamanhos

Todos os gozos 

E eventualmente os choros

(Oh pobre menino, o que ela te fez dessa vez?)


Psicóloga sem o mínimo de ética 

Meu colo é o divã dos caídos 

E minha terapia e pela fala 

(Esse fumo excessivo é evidente  fixacao oral, meu bem)


Os sinais da análise são atos falhos na cama

Se ele puxa meu cabelo

(É pela busca de algo verdadeiro 

Para se agarrar?)

Se empurra com força  contra meus quadris

(E por vontade de ser capaz de controlar algo de novo?)

Se entoa o gemido que não solta com ela

(Continua com ela por autopunição?)

Eu já sei o diagnóstico

O tratamento leva tempo, necessita de...

Internação. 


Ah, mas a sereia que canta também é encantada 

Hoje carrego preso a boca o anzol do teu desejo 

Que envergonha-me por expor que cedi a tentação 

Mas orgulha-me por indicar que(pelo menos)

Pescar e comer era sua intenção

(Espero que não frita

Mas bem assada)

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