27/05/2016

642 coisas para escrever: 4

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4-Coisas que você deveria jogar fora, mas que não consegue.
Hoje, Melanie faz vinte e nove anos.
Sua secretaria eletrônica e e-mail estavam lotados de parabenizações padronizadas.
Vinte e nove anos. Uma idade incompleta e inexata, onde a profundidade de um ser se resume em quão fundas são as suas rugas. Vinte nove anos, e Melanie tinha certeza que desses muitos dias em que passara existindo, houve poucos minutos de vivência. Melanie sempre viveu a vida que planejaram para ela. Tornou-se advogada, como sua mãe queria. Casou com seu namorado de primário na igreja, como seu pai desejava. E achava que teria tudo sobre controle para o resto de sua vida.
Até que ao chegar do trabalho, encontrou seu marido em cima de outra. Na cama do casal. Verbalizando prazer como nunca antes havia feito com ela.
Melanie não era mulher de escândalos. Fora educada para ser recatada e obediente. Uma boa esposa. Não gritou, não jogou as roupas dele pela janela. Perdoou. Procurou terapia de casal, encontros na igreja onde aprendeu que a amante era um demônio que tentou seu pobre homem.  Fez uma força sobrenatural para se convencer disso, até que um dia seu marido não voltou para casa. Esperou 14 horas com o telefone nas mãos, e estava considerando ir à polícia, quando ele chegou. Bêbado, com a gravata frouxa e marcas de beijos no pescoço,ela obteve um soco no queixo quando o interrogou sobre. Porém,não conseguia se livrar dele, seria decepcionar seus pais. Seria falhar.
Ele sim sabia jogar fora as coisas que terminava de usar. Pegou suas malas e foi embora, deixando ela com o beiço ensanguentado.
Isso fora há duas semanas. Melanie está com a ferida cicatrizada, mas seu orgulho em pedaços. Sentada no chão, com o cabelo sem pentear e exalando um azedo cheiro de quem não tem forças para tomar banho, Melanie tem em suas mãos um porta retratos que guardava a memória do dia do seu casamento.
A alma de Melanie fedia, pois ela não jogava o lixo fora.

25/05/2016

Receitas de desastre


      *Para a realização de um esplêndido banquete*

Triture meus sonhos mofados no liquidificador, adicionando duas doses de vodka e uma cartela de antidepressivos. Coloque a mistura em formas padronizadas previamente untadas. Decore com chocolate( desses vindos do trabalho infantil) para fugir da dieta.


 As crianças adoram.


Esprema num copo de plástico o meu amor até sair todo o suco. Decore com limões e beijos ao acaso.

Sirva gelado, pois desce quente.


Caso a bebida acima tenha ficado forte demais, beba o mar dos meus olhos em dose homeopática(Um placebo pra tratar sua falta de empatia).

Para o prato principal, corte a carne das minhas coxas úmidas e me sirva na sua cama, e dê os restos para os cães.


Se ainda não estiver farto, faça isso de novo e de novo, como um parasita que apenas troca de hospedeiro.


E quando as bocas salivarem a pequena morte  e eu imergir na sua alma para achar algo além de auto-preservação, os olhos vão se encontrar e a farsa que todos sabiam é finalmente admitida:


Nunca foi amor