11/11/2014

O livro e o Fim que sempre chega

Faltaram 13 páginas do livro.

E assim o final chegou mais cedo, destruindo  todas as esperanças de algo feliz e vitorioso.

Afinal, a literatura gosta de tristeza. As pessoas sentem prazer em perceber que não são as únicas infelizes nesse mundo.

Mas é angustiante.  Ignorando nossos esforços, ele sempre chega. Não importa o quanto rezemos para o autor, ele aparece em negrito, no meio de uma folha amarelada pelo tempo.

Chega de forma abrupta e insana, acabando com a coerência, justamente no clímax. Apesar de ter recebido o spoiler, a gente nunca espera que de fato acontecerá. O livro acaba, sabemos disso. Mas não percebemos, nem quando a última pagina chega. O final chega quando os personagens ainda tem histórias, vontades e contas atrasadas. E simplesmente deixam de existir. Acabou, e não há epílogos.

Fechamos o livro, abrimos outro, todos os dias, a cada por-do-sol, esperando que o fim seja diferente.E somos personagens de um livro ainda maior, que os próprios personagens reescrevem todo dia. É como uma metalinguagem se tornando metafísica. Como se universo criasse a si próprio. E tudo é belo, curioso e nítido.


Mas sempre faltam 13 páginas.

                                                      (Ariel Lima de Jesus Machado)

05/11/2014

Não sei me definir

  Sou tão enrolada quanto os cachos do meu cabelo (que por muito tempo tentei alisar, talvez por não me aceitar, talvez por não me aceitarem ).
  Ignorei tempo demais que a minha existência é tão importante quanto a dos outros, e que não pode ser preenchida por ninguém. Ou será que pode? Essa prepotência instaurada no ser humano de achar que ele é insubstituível. 
  Talvez nada do que eu fale faça sentido, talvez eu fale muito e a mensagem se perca.Quem sabe, eu tenha uma necessidade de amar e ser amada, que acaba resumindo tudo em atuação(mas,ora essa,a vida não é um teatro que não permite ensaios?).
   Tento aqui me definir, gastando palavras para que, talvez, alguém as interprete, e me procure, e preencha meu silêncio com risadas. Faço isso, mas não sei exatamente quem sou (e suponho que você, caro leitor, também não sabe quem é ).
   Mas no fim de tudo,tanto faz.Todos nós somos um gigante "tanto faz",que se perpetua no tédio

02/11/2014

Finados

Hoje é finados
O dia dos que morreram
Mas e os que vivos estão mortos
E vocês não perceberam?

Quem deposita flores
na entrada de seus quartos
enquanto os defuntos ouvem música
para tentar serem entendidos?
Quem faz a missa
De sétimo dia
Se todos os dias
Para o morto são iguais?

Hoje é finados
Dia dos que apodreceram
E aqueles que depois de tudo
Até sua esperança já perderam?
                                          (Ariel Lima de Jesus)

Autocontrole

  Sufoco com o grito que não dei.
  E como o som não se propaga no vácuo, o vazio do meu peito nem sente a pressão das palavras, essas que mereciam ser berradas.

  Engasgo com o choro que não libertei.
E meus olhos míopes ganham uma poesia abstrata, onde a paisagem é turva e as cores se misturam.

  Faço isso em nome do pudor. Faço em nome do orgulho. Faço em nome de um suposto autocontrole. Faço em nome de todos os jovens obrigados a serem adultos.

  Crio uma muralha por fora.
  Mas por dentro, eu sou uma bomba atômica